berseker: (procrastinate)
[personal profile] berseker
Outro AU-MEME fill thing o/


Prompt: High School
Personagens: Ensemble cast? Also, multipairing. Leia as letras miúdas antes do cut.
Rating: Livre
Warnings: Gakuen AU. Stalking. Sexo, amor, traição. Tirando a parte do sexo. Sort of.
Sumário: Martín e Manuel não estão se falando, Sebastián está enciumado, Luciano está furioso, Manuel não sai mais do quarto e Miguel acha que ele está tramando alguma, Julio quer mais que ele fique por lá e Martín não poderia concordar menos, Pancho quer saber o que ele tem com isso e Daniel só queria namorar em paz. E Maria e Catalina estão assistindo e comendo pipoca. Em suma, coisas de adolescentes.



Então, por razões tl;dr eu decidi escrever uns pairings que eu não escrevo usualmente. De modo que isso é Arg/Chi, Pe/Ecuador, Vene/Coco, Br/Uru e Pa/Bo. Só que eu também queria fazer uma mexida com os pairings, de modo que também é Br/Ar, Chi/Uru e mais ou menos Br/Pa. Sóóóóó que eu sai enlouquecendo, de modo que tem hints de Arg/Vene, Pe/Chi. Ou seja... achei um jeito de irritar todo mundo.





1.
sexta-feira


O que aconteceu foi o seguinte:

O jogo de futebol terminou numa confusão cheia de gritos e acusações e palavras muito feias e Martín tendo que segurar Manuel para que ele largasse o pescoço de Miguel. Que, por sua vez, começou a gritar com ele, Martín, por... alguma razão misteriosa, e Martín lhe disse que fosse berrar com sua mãe e que Manuel tinha se machucado de verdade por causa daquilo tudo, sendo que ninguém sabia exatamente o que aquilo tudo era, só que em algum momento Júlio tinha chutado seu tornozelo e ele tinha caído, e a partir daí-

Enfim. Todo mundo estava gritando com todo mundo. E Luciano, do alto de sua capacidade administrativa de capitão do time, tinha decidido dar o ar da graça nessa hora, e tinha acalmado Miguel e então Martín ainda estava segurando Manuel, sentindo como os ombros dele estavam tensos, mesmo que ele continuasse gritando as baixarias de sempre, e tinha dito alguma coisa também, mas é porque estava preocupado, e então Manuel soltou-se bruscamente de seus braços e começou a gritar com ele, e depois foi obrigado a parar porque teve que ir pra enfermaria mas mesmo assim,e agora estava agindo dessa maneira patética e irritante e Martín não ia aguentar mais isso:

-Abra essa merda dessa porta, o quarto é meu também, seu filho de uma-

-Você pode ir pro inferno, gritou Manuel de dentro do quarto. Pelo som da voz ele tinha deitado e enfiado o rosto no travesseiro.

Isso, ou estava gritando de dentro do armário.

-Abre essa porta!

-Me obrigue, gritou ele.

-Está vendo, é isso que eu ganho por me preocupar com você? Você tem que se ofender com tudo, tem mesmo que agir como um completo idiota cada vez que- uma hora dessas eu vou cansar e ir namorar outra pessoa, e pronto, dai o que é que você fazer então?

Silêncio.

Martín respirou fundo, correndo os dedos pelo cabelo, esfregando o rosto.

... foi quando percebeu que todas as outras portas estavam abertas, e ele estava sendo assistido pelo resto do dormitório inteiro.

Oh.

-Você devia pensar mais no que fala, disse Catalina, um ar desaprovador no rosto moreno – Isso não é jeito de tratar-

-Até parece, disse uma voz de dentro do quarto dela. Maria apareceu na porta e olhou para Martín por cima do ombro da colega, seus olhos verdes brilhando:

-Você estava totalmente certo, Martín, ele merecia-

-Você nem viu o que aconteceu, disse Catalina, irritada, e as duas começaram a bater boca.

Martín não disse nada. Ergueu a cabeça o mais altivamente que podia, e passou pelo corredor – e pelos olhares todos – e fingiu que não estava nem ligando.



2.


-Você devia cuidar da sua vida, disse Catalina, sentando-se na cama. Pegou um livro e abriu com força sobre o colo, disposta a ignorar Maria pelo resto da tarde.

Maria sentou-se ao seu lado, disposta a não ser ignorada nem por um segundo:

-E você devia parar de ser tão tontinha. Todo mundo sabe que o Manuel dá nos nervos-

-Você nem conhece o cara direito. Você só diz isso porque-

Ela parou. Olhou para o livro, bufando.

Todo mundo sabia que Maria e Martín já tinham ficado. E que ficavam ficando o tempo todo, também, era um boato tão espalhado que a essas alturas tinha gente que nem acreditava mais, porque achava que os dois teriam sido mais discretos. E se tinha uma coisa que Catalina detestava-

-Você não pode exigir que todo mundo seja maduro e adulto como você, disse Maria, apoiando o queixo em seu ombro, e abraçando sua cintura -Deixa eles gritarem. As vezes resolve as coisas mais rápido.

-era quando Maria fazia isso. E quando sorria desse jeito, com o rosto tão perto do dela e os olhos verdes brilhando porque ela sabia exatamente que estava sendo irritante de propósito, e-

-... Vamos estudar, disse Catalina, tentando continuar brava. Mas então Maria riu, e ela acabou sorrindo também.



3.



-Por favor? Minhas costas estão doendo, disse Luciano, tentando parecer frágil e patético e nem um pouco sem-vergonha -E eu tive um dia difícil hoje.

-A confusão nem foi com você, disse Sebastián.

-Mas foi com o meu time, e isso me afeta! Além do que, o seu primo idiota parece que cismou que o capitão é ele, o que também me dá nos nervos, por favor? Depois eu faço em você.

Sebastián parou. Mordeu a boca, suspirando profundamente. Mas Luciano conseguia ver as linhas do sorriso querendo surgir no rosto dele, de modo que sorriu de volta, contente, e se endireitou no sofá.

Sebastián descansou as mãos nos ombros dele. Apertou seus ombros de leve, os polegares na base do pescoço. Luciano fechou os olhos.

Certo, a tarde tinha mesmo sido difícil, mas estava melhorando. A sala estava vazia, todo mundo espalhado pela área verde da escola ou pelos dormitórios ou onde fosse, e ele tinha o sofá cheio de almofadas só para si, e as mão se Sebastián massageando os músculos de seus ombros, e a vida era bela e cheia de-

-Dá pra vocês dois pararem com isso?, disse Martín rispidamente.

Sebastián recuou na mesma hora, e Luciano gemeu:

-Falando no diabo...

Martín fulminou-o com os olhos:

-Belo controle do time você tem, se essas coisas ficam acontecendo-

-Cai fora daqui, não vê que eu estou ocupado?

Ele se inclinou sobre o encosto, tentando pescar Sebastián de volta. Seu amigo-possível-affair segurou sua mão, mas não tirou os olhos de Martín:

-Ah, então, disse ele – O- como ele está?

-Num mal humor do cão, lógico. Ele me trancou pra fora do quarto, você acredita?

-Claro, disse Luciano – Ele faz isso o tempo todo, porque não faria agora? Você devia ir dar uma volta, pra refrescar as idéias-

-Pra você corromper o meu primo em paz? Não obrigado! - ele se jogou no outro sofá e encarou Sebastián - Você não devia estar estudando? Deixa a tia ficar sabendo disso!

-Isso não é problema seu, disse Sebastián, ruborizando -E eu não preciso de você tomando conta de mim, e-

-... sério?, disse Luciano -Você está mesmo dizendo isso? Você vai contar pra mãe dele que ele não estuda?

-Não quero nem saber, vocês não deviam estar fazendo isso aqui de qualquer modo, e-

-Você só está com raiva porque o seu namorado não te aguenta, disse Luciano. Os olhos de Martín faiscaram:

-Bom, pelo menos eu não saio mentindo pra ele e enganando todo mundo-

-Do que você está falando? murmurou Sebastián, puxando a mão. Luciano olhou para ele, incrédulo:

-Você não vai- Sebby, esse idiota está obviamente tentando-

Martin abriu um sorriso satânico:

-Você sabia que a gente já ficou?

Pausa.

Pausa longa e constrangedora, na qual Luciano revirou os olhos e então encarou Martín, e Martín encarou de volta, erguendo as sobrancelhas, e então Sebastián disse, numa voz indiferente:

-Luciano?

-Que diabos. Isso não é enganar ninguém, todo mundo já sabia. E todo mundo sabe que foi um momento de insanidade temporária e-

Sebastián sorriu. Apertou o ombro dele, sem olhar para ninguém:

-Claro. Não tem importância.

-Sebby! Você sabia disso! Lembra, no final do ano passado, quando-

-Ah, sim, eu- hum. Eu vou- hm. A gente se fala.

Luciano abanou a cabeça, vendo-o sair da sala. Olhou para Martín:

-Você é desprezível.

-Nem ligo, disse Martín, emburrado. Deitou no sofá, encarando o teto – Se eu não posso ser feliz, você também não pode.



4.




-Eles estão brigando de novo, disse Daniel.

Júlio resmungou qualquer coisa. Ele gostaria de culpar Manuel por ser basicamente uma erva daninha no jardim da humanidade, mas não podia deixar de culpar Martín por ser Martín, de modo que preferiu manter um silêncio diplomático.

Além do que, estava feliz demais pra se preocupar com isso. Estava sentado entre as pernas de Daniel, as costas apoiadas no peito dele, e era confortável ouvir Daniel falando assim em seu ouvido, sentir a boca dele em seu cabelo. Mesmo que estivesse falando daqueles idiotas.

Ele não tinha parado, aliás.

-Você não devia ter feito isso, disse Daniel -Sério.

-Você não ouviu o que ele disse pra mim, disse Júlio, apertando os lábios.

Daniel não insistiu:

-Tudo bem, mas pelo menos fecha a porta... antes que alguma coisa pior aconteça.

Júlio suspirou. Bem fundo. Mas levantou-se e foi até a porta. Abriu só pra ver se tinha alguém no corredor.

-Júlio-

Manuel estava fazendo a mesma coisa, abrindo uma fresta de sua porta e espiando discretamente. Júlio sorriu:

-Ah, vai sair agora? Cansou de chorar no travesseiro, é?

Manuel parou e olhou para ele, o rosto completamente inexpressivo.

Então bateu a porta e se trancou no quarto de novo.

-... você não devia ter feito isso, repetiu Daniel, nervoso - Isso foi um grande erro-

-Por quê? Desde quando você liga pro que esse idiota pensa-

-Desde que o meu primo vai ficar num humor infernal, e você sabe que-

A porta se abriu num rompante, e Júlio foi empurrado sem a menor cerimônia contra a parede, e o grande destruidor de romances, o demônio loiro superprotetor egoísta conhecido como Martín Hernandez se materializou na porta do quarto.

-Erm, disse Daniel – Oi?

-Preciso falar com você, disse Martín -E, Júlio-

-Poupe a vida dele, gritou Daniel – A gente só estava-

-Cai fora do meu quarto, gritou Júlio, indignado -Só porque você não consegue-

-estudando, disse Daniel – Nada demais, a gente só estava estudando, erm, você queria falar comigo sobre-

-A sua sorte é que eu não tenho tempo pra perder, disse Martín, dando a Júlio o olhar que daria a uma barata – Não pense que eu não sei que isso é tudo culpa sua, seu- mas não importa. Eu não vou deixar meu inocente priminho perto de uma ameaça radioativa como você.

Agarrou o braço de Daniel e o puxou para fora do quarto, ignorando completamente tudo que Júlio estava dizendo sobre ele e Manuel e a falta de castidade da mãe dos dois e todo o resto.



5.



Francisco estava ajoelhado no gramado da escola, fazendo alguma coisa desinteressante que envolvia pegar um monte de folhas.

Ele estava sempre fazendo coisas assim. Miguel sentou-se do lado dele, inclinando-se para frente. O inverno estava pela metade e o sol não era o bastante para faze-lo tirar o agasalho, mas era melhor do que entrar agora. Ainda mais depois disso tudo.

-Júlio disse que o Martín foi lá bater nele.

-Deve ser mentira, disse Francisco, sem erguer o rosto – Sempre é.

-Não fale assim do meu irmão!

-Ou o que? Você vai quebrar minha perna também?

Miguel ergueu o rosto, magoado:

-Por que é que você está falando assim? Nem quebrou, ele só torceu, e nem fui eu, foi o Júlio, e afinal de contas de que lado você está? -ele se endireitou, arregalando os olhos – É isso, não é? Você está do lado dele! Bem que eu vi vocês dois conversando outro dia, eu sabia, ele está tentando tirar você de mim-

-Eu não sei do que você está falando! -ele puxou um pedaço de grama com força, olhando fixamente para a terra -Você é que fica olhando para ele o tempo inteiro.

-... ora. Claro que não. Eu quase quebrei a perna dele hoje.

-Sei, disse Francisco.

Miguel não gostou do tom:

-E foi só pra defender o Júlio, antes disso eu estava jogando normalmente.

-Sei.

Ele nem se moveu, só continuou fazendo... o que estava fazendo, recolhendo folhas do chão, e Miguel não ia perguntar pra quê. A resposta provavelmente ia levar horas.

-Bom, eu estava. E se você disser sei de novo, eu vou embora.

-Por que é que você tem que se envolver com eles?

-Eu não me envolvi com ninguém. É só que o Júlio disse-

-Sei, Miguel.

Miguel levantou-se:

-Bom, se você vai ser assim, eu vou- fazer outra coisa.

Francisco não disse nada. Miguel se afastou, irritado. Quando parou e olhou para trás, já perto da entrada da escola, Francisco estava olhando para ele. Mas baixou o rosto imediatamente.



6.


Sebastián bateu na porta e esperou. Quando a voz emburrada lá dentro perguntou quem era, ele respondeu o mais discretamente que podia. Não que fosse ajudar em alguma coisa. Todo mundo ali ficava sabendo de tudo.

-Não quero falar com você – gritou Manuel, acrescentando mais uns trezentos palavrões pra enfatizar.

Sebastián estava chateado demais pra se aborrecer com uma coisinha dessas:

-Não é o Martín, disse ele- Eu sei que o sotaque é parecido, mas mesmo assim. Pessoas diferentes.

Porque isso era difícil de lembrar, pelo jeito. Quer dizer. Tanto fazia, né? Praticamente a mesma coisa, os dois. Não era isso que todo mundo pensava?

Manuel abriu uma fresta da porta, desconfiado:

-O que é que você quer?

-Nada. Falar com você.

Ele esperou. Manuel esperou também. Por fim Sebastián tentou um sorriso:

-Eu trouxe comida?

Manuel abriu a porta.

Trancou de novo assim que ele entrou, e então voltou para a cama, onde se sentou com os braços cruzados, como se esperasse uma explicação. Sebastián sentou-se na cama de Martín e continuou sorrindo, um tanto vagamente. O quarto dos dois era uma bagunça completa. E suja também. E cheia de posteres de jogadores de futebol na parede.

Bom. Isso todo mundo tinha. Enfim.

Certo, e agora o quê?

-Quer comer alguma coisa?

Manuel apertou os lábios. Evidentemente, admitir que estava com fome ia ferir seu orgulho, de modo que Sebastián estendeu-lhe um saco de papel com um dos misteriosos sanduíches da cantina:

-Eu peguei o mais normal, disse ele, mas parou quando Manuel se atirou sobre a coisa como um pequeno lobo faminto. -Erm. Espero que esteja- mais devagar, ou você vai engasgar.

-Agora eu não consigo nem comer direito sem ajuda, é isso? Então você também acha que eu preciso de alguém tomando conta de mim?

Os olhos dele brilhavam de ressentimento. Sebastián cansou de sorrir:

-Sei lá, eu nem sei o que diabos aconteceu. Você sabia que ele e o Luciano tinham-

-Todo mundo sabia, disse Manuel, ainda mais bruscamente – E daí, foi isso que você veio me dizer?

Sebastián não disse nada. Estava com vontade de fazer alguma coisa boba. Como abraçar o travesseiro.

-Isso faz tempo, disse Manuel, olhando para ele. Agora parecia só um tantinho mais ameno -Aposto que ninguém nem lembra mais.

-Tudo bem. Não importa.

-... bom, sinto muito. Mas obrigado pelo lanche.

-De nada.

Silêncio.

-... eu acho que eu quebrei alguma coisa, disse Manuel por fim, baixando os olhos – Está doendo.

-Hm.

-Eu tomei umas coisas aí, mas não passou.

Ele começou a morder a boca. Sebastián achou que parecia muito o que Martín fazia, quando percebia que estava sendo estúpido. Levantou-se, disposto a ser – de novo – a pessoa mais madura na sala.

-Vamos pra enfermaria, então.

-Você-

-Eu vou adorar sair daqui com você, disse Sebastián com um sorrisinho.

Manuel pensou um pouco.

Depois sorriu também.



7.
sábado



No dia seguinte, Miguel foi até a mesa de Martín.

Bom. Seria a mesa de outras pessoas também, mas aura de depressão em torno ele era tão espessa que ninguém tinha nem tentado chegar perto.

-Meu irmão disse que você bateu nele.

-Eu tive que dormir na sala, disse ele – Porque aquele idiota não abriu a porta.

-... o meu irmão?

Martín ergueu os olhos para ele. Parecia a beira das lágrimas, e Miguel perdeu um pouco da raiva:

-Martín-

-A gente nunca ficou separado por tanto tempo, disse ele, num murmúrio derrotado -Ele não- eu não sei mais o que fazer.

Miguel sentou-se do lado dele, sentindo-se desconfortável. Na verdade, ele já sabia disso, porque sempre ficava sabendo de tudo que Manuel fazia. Mas não ia contar isso agora. Deu um tapinha másculo no ombro de Martín, para confortá-lo:

-Eu não me preocuparia. Ele vai ter que sair de lá na segunda-feira quando a aula começar. Mesmo assim, não é razão pra bater no Júlio, e se você fizer isso de novo eu vou ter que partir a sua cara, ok?

-Está vendo? Toda a minha vida está desmoronando ao meu redor. Até você está contra mim. Você me faz um favor? Se eu morrer, leve o meu cadáver pra porta do quarto dele.

-Não seja besta, isso vai deixar o cara traumatizado o resto da vida.

-... e desde quando você se importa?, perguntou Martín, subitamente desconfiado. Miguel deu de ombros:

-Não me importo. Só... peça desculpas, mande um cartão, sei lá.

Martín mordeu o lábio, e por um segundo pareceu mais patético ainda. Miguel deu outro tapa em seu ombro, e levantou para ir embora.

Então disse:

-Afinal de contas, o que é que você disse pra ele?

-Você estava lá! Você ouviu.

-Bom, desculpe, mas eu estava pensando em outra coisa. Em respirar, por exemplo. O pessoal disse que você humilhou ele em público.

-Que besteira! Eu só disse pra descansar o próximo jogo, porque ele se machucou!

Miguel pensou um pouco. Depois sorriu:

-Sabe, disse ele – Pensando bem, eu não acho que um pedido de desculpas vá adiantar.



8.


Daniel estava sentado no banco da arquibancada, olhando tristemente o pessoal do time se espalhando pela quadra.

Bom. O pessoal do time que ainda estava em condições de andar. Manuel não tinha vindo.

Luciano foi até ele, primeiro porque não gostava de ver pessoas se deprimindo sozinhas, e segundo porque isso ia arranhar os nervos de Martín, e ele estava merecendo. Sentou-se, tirou o tênis e começou a calçar as chuteiras:

-Então...

-Não acredito que ele fez isso, disse Daniel.

Luciano concordou. A situação dele era pior que a sua.

-Não se preocupe, o Júlio volta. Se não desistiu até agora, não desiste mais. O Martín bateu mesmo nele?

-Não. Mas chegou perto. Acho. E ele me puxou do quarto! Pelo braço! Odeio quando ele faz isso. É verdade que vocês-

-É, e todo mundo já sabia disso. Ou, pelo menos, eu achei que sabia. Com a coisa de ser bem no campo depois da final do campeonato com dez milhões de pessoas assistindo, eu pensei. O Manuel quebrou mesmo a perna?

-Torceu, só. Pelo menos foi o que o Sebastián disse. Os dois estavam conversando bastante.

-Hm, fez Luciano.

O resto do time estava começando o aquecimento. Martín inclusive. Mas tinha notado os dois conversando. Luciano podia vê-lo olhando para cá a intervalos regulares de três segundos:

-Vejo que a fase depressiva dele terminou, disse Luciano – Até que foi rápido.

-... por acaso você está aqui comigo só pra deixar ele irritado?

-Claro que não – Luciano abriu seu sorriso mais cativante -Isso é um bônus.

Daniel sorriu de volta, e sentou um pouco mais perto. Luciano abraçou sua cintura, puxando-o até que os dois tivessem encostado, e então Daniel riu:

-Ele vai matar você.

-Que bom, disse Luciano – Eu estou muito a fim de bater nele hoje.

Ele se virou para a quadra, achou a cabeça loira de Martín no meio dos colegas, e acenou alegremente.

Então virou-se e beijou o rosto de Daniel, quase no canto da boca, e quando Martín agarrou a frente de sua camiseta de Luciano e puxou (e caramba, ele era rápido quando queria) Luciano ergueu o braço, já fechando os punhos, e-

Bom, a partir daí as coisas ficaram um pouco confusas.



9.



-... eu não acredito que você mandou o Martín pra enfermaria, disse Sebastián.

-Pois não acredite, que não é verdade. Ele foi porque quis.

-Pessoal disse que ele precisou de ponto.

-Frescura.

-E que ele ficou com o olho roxo.

-Exagero.

-E que ele está com a cara toda inchada.

-É só pôr gelo.

-E que vocês dois estão suspensos do time pro resto da vida.

-Escuta, se você veio só pra me acusar-

-Isso foi por minha causa?

Luciano não respondeu.

-Porque eu não acredito que você ia brigar com ele por causa do Dani, disse Sebastián, frustrado – Quer dizer, primeiro, ele é uma criança inocente e você não devia fazer isso, e segundo, eu acho que-

-Você ficou com o Manuel?

-... não. A gente só conversou.

-Certo. Eu acredito em cada palavra.

Sebastián sentou-se ao lado dele, em silêncio e com a cabeça baixa.

Luciano afundou um pouco mas nas almofadas:

-E, além disso, agora a minha mão está doendo. A cara daquele idiota machucou o meu dedo.

Sebastián hesitou por um segundo, então segurou a mão dele.

Luciano não disse nada, cada vez mais emburrado, e então Sebastián ergueu a mão dele, beijou seus dedos com delicadeza:

-Bom. Sobre ontem, eu- acho que eu exagerei um pouco. Quer dizer. Eu não sabia que era uma história velha.

-Ta vendo? Você precisa confiar mais em mim.

-Eu sei, disse Sebastián, humildemente – Desculpe. Depois que eu vi que tinha até saído no jornal, comecei a ver as coisas com outros olhos.

Luciano olhou para ele, um pouco desconfiado. Mas também estava cansado de drama, e a sala estava confortável (e vazia) demais para ser desperdiçada. Acabou optando por chegar mais perto, e se aconchegar no ombro de Sebastián:

-Tudo bem, disse ele, num tom bem mais amável – Só porque eu tinha esquecido completamente, não quer dizer que todo mundo tem ele ia esquecer também.

-Diga isso quando ele estiver perto, rebateu Sebastián, ignorando a pontinha de ciúme que queria surgir. Estava aqui, não estava? Segurando Luciano, e não tinha ninguém aqui, e Martín estava, digamos, temporariamente neutralizado. E ele não queria que Luciano perguntasse de novo de Manuel. Melhor mudar de assunto.

Beijou os lábios dele, então. Luciano sorriu. Segurou a haste de seus óculos, puxando com cuidado:

-Ele precisou mesmo de ponto?

-Duvido, disse Sebastián, piscando algumas vezes, enquanto Luciano dobrava seu óculos e colocava na mesinha de centro. – Mas ele vai dizer que precisou.

-Hm, fez Luciano. Ele se endireitou no sofá, puxando Sebastián para seu colo, e começou a beijar seu pescoço.

Sebastián fechou os olhos, enfiando os dedos no cabelo dele. Certo, pensou. Recomeçando de onde tinham parado.



10.


Manuel franziu a testa.

Martín encarou-o de volta.

Estava sentado em uma das macas da enfermaria, tentando convencer a enfermeira a lhe dispensar das aulas de segunda-feira, até agora sem sucesso. Mas ele ainda tinha esperança. Tinha sido um fim de semana difícil. E muita cara de pau de Manuel aparecer aqui agora, como se nada tivesse acontecido. A culpa disso tudo era dele, então ele podia pegar suas reclamações e enfiar no-

-Você é um idiota, disse Manuel, tocando seu rosto com a ponta dos dedos.

As queixas de Martín morreram na boca. Manuel deixou a mão cair, desviando os olhos. Martín sorriu de leve.

Depois parou, porque isso fazia sua boca doer. Luciano maldito ia pagar por isso.

-Ouvi dizer que você não vai poder jogar agora, disse Manuel, então.

-É, viu que injustiça? Eu fui atacado-

-Você que começou!

-E dai ele me atacou. Afinal de contas, de que lado você está?

Manuel abanou a cabeça. Continuou olhando para o outro lado, e Martín suspirou enfaticamente, pra mostrar que estava muito chateado com ele. Depois segurou a barra de sua camiseta, e o puxou mais perto:

-Você ainda está bravo comigo?

-Sim, disse Manuel. Segurou os ombros de Martín, abraçou-o com cuidado.

Martín enfiou o rosto no ombro dele, abraçou-o com força, tentando sufocar aquela sensação insanamente protetora, como se Manuel fosse uma coisa muito frágil em seus braços e ele tivesse que-

-Assim eu não consigo respirar!

-Desculpe, disse ele, afrouxando um pouco o abraço -Escuta, você podia estar andando por aí? Eu não quero que você force muito o seu mmph-

Manuel cobriu a boca dele com a mão, com muito mais força do que precisava. Mas não tirou o braço de seus ombros e até deu um beijo em seu cabelo, e por isso Martín lambeu a mão dele, em vez de morder como tinha pensado em fazer.






Omake

domingo



-Eles não vão nos achar aqui, disse Júlio, confiante.

-... no seu quarto?

-Sim. Eles vão procurar no seu e, se você não estiver lá, vão entrar em parafuso.

O pior é que era verdade, pensou Daniel. As vezes seus primos podiam ser bem lerdos.

-Agora, como todo mundo fez as pazes – Júlio trancou a porta, e sorriu para ele, travesso – Temos pelo menos uma meia hora de sossego pra aproveitar até o próximo round.

-Então não vamos desperdiçar, disse Daniel, sorrindo. E pensar que foi você que começou isso tudo, pensou, mas isso ia atrasar ainda mais as coisas. Deitou-se na cama dele. Júlio veio e sentou-se sobre suas pernas:

-... é verdade que o Luciano beijou você?

-... estamos perdendo tempo, choramingou Daniel. Júlio torceu os lábios, então sorriu também, e se inclinou para beijar sua boca.





-... as coisas estão tão quietas, disse Maria.

-Hm.

-E paradas.

-Hm.

-Tá vendo? Nem você me dá atenção. Vou lá fora ver se acho alguma coisa pra fazer.

-Todo mundo está estudando, disse Catalina, finalmente erguendo os olhos de sua revista – Mas estou certa de que amanhã acontece alguma coisa bem idiota.

-Como você pode ter tanta certeza? Você vai fazer alguma?

-... isso é uma indireta?

-... indireta? Eu praticamente soletrei.

As duas se encararam.

Depois começaram a rir.

-Tá, disse Catalina, tirando o lenço dos cabelos – Vem cá, então, vamos conversar um pouco.

Maria foi até a cama dela, feliz:

-Mas sabe, disse ela, aninhando-se nos braços da amiga -Eu acho muito frustrante o jeito como todo mundo aqui vive brigando. Triste, isso.

-Sim. Gasta muita energia.

-É. Pena que não são maduros como a gente.

-É o que eu penso, disse Catalina. Puxou uma das mechas do longo cabelo da outra – Agora, que é isso de me chamar de idiota?





Enquanto isso, Francisco estava tremendo de frio em algum lugar do jardim, segurando uma lanterna para seu namorado estúpido:

-Escuta, será que dá pra ir mais rápido? Eu estou congelando!

-Se você não tivesse esperado até agora pra me lembrar disso, eu já teria feito antes! Por que é que você não me disse que era um trabalho pra segunda-feira?

-Ah, agora a culpa é minha? A gente está fazendo esse trabalho desde o começo do mês! Você podia ter pensado-

-Aqui!, disse Miguel triunfante – A última merda de folha com risquinhos!

-Folíolos, murmurou Francisco.

-Ou isso, disse Miguel, erguendo-se do chão e espanando a terra dos joelhos.-Vamos pra dentro achar um chocolate quente.

Ele olhou para as janelas do dormitório:

-Hm, a luz deles está acesa. Eu me pergunto-

-Todas estão acesas, disse Francisco. Nem precisava perguntar de qual ele estava falando – E você deveria-

-Esquece, disse Miguel, adivinhando o rumo que as coisas iam tomar – Deixa pra lá, vamos pra dentro.

Francisco parou. Miguel sorriu para ele, e pegou sua mão no caminho, e Francisco acabou sorrindo sem querer. Chocolate soava muito bem.




-Manuuuuu-

-Ele está tramando alguma coisa, disse Manuel, baixando os binóculos, um ar determinado no rosto – Quem deixa pra colher amostras na calada da noite? Eu acho que-

-Quem liga? Vem cá, eu estou sofrendo e você nem se importa!

-Mas ele-

-Vem cá e eu não te pergunto porque diabos você não deixa o Miguel em paz.

-Mas eu-

-Melhor ainda, vem cá e eu não te pergunto porque é que todo mundo está falando de você e do meu primo.

-Estou indo, disse Manuel.

Mancando um pouco, ele foi até a cama de Martín. Deitou-se ao seu lado, mal-humorado:

- Pronto, estou aqui. E agora?

-Já te mostro, disse Martín, satisfeito. Manuel esboçou um sorriso encabulado, assim tão perto de sua boca, Martín não teve nem que se mexer muito, para beijar seus lábios.








~*~



... anyway back to work.


Profile

berseker: (Default)
berseker

May 2015

S M T W T F S
     12
3456789
10 111213141516
17181920212223
24252627282930
31      

Most Popular Tags

Style Credit

Expand Cut Tags

No cut tags
Page generated Jul. 20th, 2025 10:12 pm
Powered by Dreamwidth Studios